Como o orgulho nacional da Coreia do Sul se tornou prejudicial ao próprio país

O sistema educacional da Coreia do Sul transformou positivamente o país, mas também causa um dos maiores problemas sociais da sociedade coreana

Imagem em destaque – Fonte: AFP (Agence France-Presse)

A Coreia do Sul, antes um país pobre e agrário, agora é uma das maiores economias do mundo, estando na 11ª posição, ultrapassando países como a Rússia, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Porém, a situação de pobreza enfrentada pelo país não é tão remota. Ainda nos anos 50, a outra metade da Coreia do Norte estava arrasada por conta das consequências da Segunda Guerra Mundial. A renda per capita da época era de 80 dólares e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita era próximo de zero, de acordo com dados do Banco Mundial. É o que mostra, também, um gráfico feito pela BBC:

Enquanto a Coreia do Norte estagnou no tempo, a Coreia do Sul deu um salto gigante na economia. Fonte: BBC

 

Para sair daquela conjuntura, a Coreia do Sul investiu em educação. Ao contrário do Brasil, o principal investimento foi e ainda é em educação básica. O país atingiu a universalização do ensino primário nos anos 70 e logo depois aumentou os investimentos nos ensinos secundário e superior. Investir e priorizar os professores também fez parte do plano: são profissionais com alta capacitação, com salários altos e a profissão é admirada pela sociedade coreana.

Segundo o Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) que mede a qualidade de educação em um país, a Coreia do Sul ocupa a 2ª posição num ranking entre 40 países. Ainda de acordo com a pesquisa, os estudantes sul-coreanos estão entre os melhores em desempenho mundial em matemática, ciência e leitura.

O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

A revolução no sistema educacional, que fez o país sair da miséria, é motivo de orgulho para a sociedade sul-coreana. Porém, hoje, a Coreia do Sul está entre os países com as maiores taxas de suicídio do mundo. Com a rápida ascensão na economia e com a valorização cultural do trabalho árduo, o individualismo e a competitividade entre, principalmente, os jovens, aumentou e isso leva a grande pressão social sobre os mesmos.

O sistema de ensino é pautado na ideia de ser o melhor, o que acaba prejudicando o bem-estar mental de inúmeros estudantes. A jornada escolar pode chegar a 12 horas diárias, porque espera-se que os estudantes estudem depois do horário normal de aula até de madrugada. Já na esfera do trabalho, a jornada era de 68 horas semanais.

O governo sul-coreano reconhece os erros do sistema e tem implementado medidas para reduzir essas jornadas, por exemplo. Em meados de março de 2018, foi aprovada uma lei que diminui a jornada de trabalho para 52 horas semanais. E a Secretaria de Educação da região metropolitana de Seul, capital da Coreia do Sul, começou a diminuir a carga horária das aulas.

Infográfico feito por Isabela Cintra

Desde muito cedo, os sul-coreanos se dedicam a sua educação e o objetivo principal é entrar na universidade. Para que isso aconteça, são dedicadas horas extracurriculares para se dedicar aos estudos. Além das horas passadas dentro da escola, os pais investem em aulas particulares para os filhos em institutos privados.

O alto custo de investimento na educação do filho é um dos motivos para a baixa taxa de natalidade do país, aponta, à BBC, o professor de sociologia Lee Do Hoon da Universidade Yonsei, uma das mais conceituadas da Coreia do Sul. E completa dizendo que é preferível ter poucos filhos ou só um com uma educação de qualidade do que muitos filhos e os pais não conseguirem dar educação de qualidade para eles.

TABU

Conforme uma pesquisa do governo sul-coreano sobre suicídio, um de cada quatro sul-coreanos afirma que já teve algum tipo de transtorno mental, mas só um de cada dez buscou ajuda.

O tabu em torno do tema como também em transtornos mentais colabora para o aumento das taxas de suicídio. De modo geral, os sul-coreanos não se sentem à vontade ou confortáveis para falar do assunto. Em culturas orientais e até mesmo ocidentais, a imagem do suicida é de uma pessoa fraca. A falta de informação e os estigmas sociais sobre o assunto, fazem com que uma parte da sociedade acredite que transtornos mentais são, de fato, uma fraqueza.

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